segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Saudade

Estou com saudade.

Estou com saudade do menino bem-humorado que você é e da menina leve que eu sou quando estamos juntos.

Estou com saudade do seu riso encabulado quando eu faço alguma gracinha besta, e do seu sorriso aberto sem pudores quando você olha pra mim.

Estou com saudade da sua pele, do seu calor, de como o seu corpo se encaixa no meu quando você me abraça.

Estou com saudade de viver no mesmo fuso horário, de ter o privilégio de dormir e acordar na mesma hora, ao seu lado.

Estou com saudade de você. Quero voltar pros seus braços.

Termina logo, 2013.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Minha morte do Facebook

Pois é. Decidi assim, sem mais nem menos, sem contar pra ninguém, que vou desativar o meu perfil no facebook. Eu pensava em fazer isso há pelo menos um ano, mas sempre me surgia um "mas" que me fazia desistir da ideia. Hoje, finalmente, decidi me libertar.

Mas como assim, "me libertar"?

Os franceses têm um apelido adorável para a rede social:
"cara de bode" (face de bouc)
Eu sou contra o facebook. Mas o uso todos os dias e, pior ainda, às vezes mato tempo - muito tempo - por
lá. Eu era meio dependente de um negócio que eu não gosto... vá entender! Decidi simplesmente parar de me contradizer. 

Imagine alguém que não gosta de chocolate. Aí começam a dizer pra essa pessoa "coma chocolate! É tão bom!" e ela decide experimentar, comer de vez em quando, especialmente em companhia dos outros. Distribuem chocolate nos lanches da escola, nos intervalos do trabalho, e ela lá, comendo e comendo, cada vez mais se entupindo, torna-se quase uma compulsão. O pior é que parece que ninguém sabe que faz mal, que comê-lo todos os dias, a toda hora, pode acabar te matando um dia. Essa pessoa quer parar, ela nunca gostou de chocolate mesmo. Mas agora, que o único modo de interagir com seus amigos passou a ser comendo chocolate, como fazê-lo sem chocar todo mundo?

Eu me dizia que podia manter as aparências, manter um chocolate na mochila sem comê-lo, só para mostrar às pessoas que está lá. Mas não adianta e eu acabo comendo todo dia. Sem gostar. Então está na hora de cortar o mal pela raiz.

Sério, cansei disso. E resolvi escrever sobre os meus motivos, bem como os "mas", desculpas que por tanto tempo me pararam.


Por que eu não gosto do facebook?

1) Razões éticas
Esse é o meu maior motivo, o lado obscuro de estar numa rede social que a maior parte das pessoas infelizmente não conhece. Quando você coloca algo no facebook, este algo passa a pertencer a eles. Seus feeds, fotos, vídeos, suas mensagens inbox... quando você deleta algo, este algo não é deletado dos servidores e continua pertencendo a eles. Na prática, isso significa que, em teoria, eles poderiam simplesmente publicar um livro com tudo, tudo, tudo o que você já fez enquanto estava no site (e ninguém garante que eles não vendam dados a governos e agências, por exemplo). É só mudar a política de utilização de dados e voilà
Ainda, a ideia de uma única empresa praticamente monopolizando o universo global das redes sociais também me é assustadora. Eu não vejo razão de nos submetermos a isso.
(Quem quer saber mais sobre isso, vale a pena dar uma conferida na história de Max Schrems, um estudante que conseguiu acesso aos dados que o Facebook mantém a seu respeito. Lá estava, do número de computadores de onde ele acessou a rede, até mensagens que tinha excluído há mais de ano... é assustador.)

Mas... não tem mas.
Realmente, não vejo ponto positivo em simplesmente abrir mão de sua liberdade e privacidade. Esse aspecto me incomoda, e muito.

2) Questões existenciais
Acho meio assustador como o mundo à minha volta está mudando por conta desse site. Não só por conta de todos os pedidos de "curtir" que aparecem praticamente em todo anúncio publicitário; parece que toda a nossa vida social foi transferida para o meio virtual. Estamos num limbo paralelo, num mundo que nem sequer existe.
E essa obsessão que as pessoas têm de mostrar compulsivamente o quanto são felizes? É perplexante, e o pior é que começou a me afetar também. Quando eu me sentia bem, feliz, ou quando algo lindo acontecia na minha vida, minha primeira reação era me imaginar postando uma foto do momento de felicidade, ou uma frase para traduzir minha alegria, ou uma música. No fim eu nunca postava nada, mas... Sério, que coisa triste isso. Deveríamos ser felizes para nós mesmos, não para os outros.
E essa coisa de encurtar todas as relações, dar um "curtir" por preguiça de comentar ou escrever - ou porque toma menos tempo - é outra coisa que eu não gosto. Prefiro ter um blog e escrever o quanto eu quiser do que escrever alguma coisa curta esperando "likes" de gente que não conversa comigo há tempos.

Mas... eu, pária social?
Quem não está no facebook é considerado um ser estranho, psicopata e alienado do mundo à sua volta. Eu não queria que as pessoas estranhassem o fato de não me encontrarem mais por lá. Mas... convenhamos, né? 

3) Cadê o meu tempo?
Eu era uma antes desse bendito site, sou outra depois dele. Já há tempos, ele está afetando excessivamente a minha maneira de gastar o tempo. Quando me sobra um pequeno momento de "vácuo", intervalo entre uma atividade e outra sem saber o que fazer, já o preencho por compulsão digitando o "f" no meu browser. O facebook torna mais fáceis a nossa escolha do que fazer com o tempo: simplesmente gaste-o lá, você vai encontrar o que fazer, por mais vazio que seja.

Mas... uma medida drástica é a solução? 
Eu pensava "é só questão de autocontrole, eu não preciso deletar meu perfil para aproveitar melhor o meu tempo". E realmente, é verdade. Por um bom tempo, toda vez que eu tinha um impulso de abrir o facebook por falta de coisa melhor para fazer, eu decidi que abriria o memrise e aprenderia um pouco de francês. Dava certo, é um tipo de joguinho e é divertido, entretém tanto quanto o facebook e tem a vantagem de ser algo útil. Mas eu me sentia na quase-obrigação constante de saber o que se passa na rede social, como se uma corrente me prendesse. Rompê-la vai me fazer sentir muito mais leve.

4) Cadê os amigos?
Eu sou um ser cheio de saudades. Sinto saudade de um amigo com quem não converso há tempos, de um ex-colega de trabalho que saiu do país, de um ex-coleguinha da escola primária, de uma ex-professora do ensino médio. Com o facebook, ficou fácil de encontrá-los, já fiquei emocionada de encontrar pessoas com quem eu já havia perdido contato há eras. Por vezes, me pergunto como está a vida de fulano, se ele já casou, como está o trabalho, se tem viajado, o que tem feito da vida. E oras, o facebook me facilita muito obter alguma resposta. Só que tem relação mais superficial do que a de um voyeur? A pessoa nem sabe que eu pensei nela, que senti saudades, que queria saber como está. É muito mais fácil dar uma stalkeada rápida do que escrever uma mensagem e começar uma longa conversa (e insistimos em dizer/acreditar que temos cada vez menos tempo para isso). Aí tenho coleguinhas de infância que quase morri de alegria ao encontrar, que estão lá entre os meus amigos, mas com quem eu não converso nunca. Não vejo muita alegria em manter contato desse jeito.
E ainda gasto uma boa parte do meu tempo descobrindo coisas desnecessárias sobre pessoas que eu só conheço de longe e que tenho adicionadas. Incrível como a gente sabe coisas inúteis sobre gente que não nos é importante.

Mas... e perder o contato?
Acho que esse "mas" foi o que me manteve nessa "droga social" por tanto tempo. Mas por favor, né, que desculpa esfarrapada. Se sinto uma súbita saudade de alguém, posso muito bem escrever um e-mail, perguntar como está, pedir fotos da filha. Se não encontrar nenhuma forma de contato dessa pessoa, na pior das hipóteses, peço para alguém pedir por seu e-mail através do facebook. Não acho que alguém rejeitaria um e-mail que diz "pensei em você esses dias, mande notícias", não é? 

Eu me pergunto se sou a única que lida com esse negócio como se fosse uma droga. Vicia, rouba-nos a vida em sua melhor fase, faz com que não conseguimos imaginar a nossa vida sem ele.

E por isso estou tão feliz de matá-lo.


domingo, 15 de setembro de 2013

Riozinho com guarda-chuva

Uma simples foto de um riozinho em Roubaix, perto de onde o Edu trabalha:


Eu me pergunto o que fez com que um guarda-chuva de ponta-cabeça fosse parar ali.


As cores desses lugares, gente! Me dá uma baita saudade e vontade de voltar logo. ♥

domingo, 1 de setembro de 2013

Saudade

Já faz duas semanas que eu voltei. E sou toda saudades.

França, cadê você?

Não que eu não goste do Brasil (pelo contrário, quem me conhece sabe que sou apaixonada por este nosso país)... Mas a impressão que tenho é que deixei minha casa para trás. Aqui, sinto-me um tanto alienígena, como se não mais pertencesse a estas terras. Meu coração, confuso, me pergunta: mas o que estou fazendo aqui?

Gostei da França muito mais do que eu pudesse imaginar. Gostei das pessoas que conheci, gostei da língua, gostei das coisas que eu vi, gostei da cidade do Edu, gostei dos croissants... Eu esperava me sentir uma estrangeira, mas não foi o que aconteceu. Senti-me estranhamente em casa.

Eu não tinha certeza se eu iria querer ir para a França, morar lá. Mas agora sei que é o que eu mais quero.

Só que eu adotei a França antes que ela me adote. Dada a complicação de se conseguir passar pelo sistema burocrático deles para se conseguir ir para lá, nada é certo ainda.

Os meus planos:

Ago-Dez 2013: Terminar a faculdade por aqui, terminar a monografia, me formar. O diploma não sai antes de março/abril do ano que vem, mas não vou ficar aqui no Brasil de braços cruzados, esperando.
Jan-Fev 2014: Me matricular num curso de francês para universitários. 16 horas semanais, 6 meses, 1000 euros. Barato não é, mas é a melhor solução para voltar pra lá antes de agosto, sem contar que eu melhoro o meu francês, o que não é nada mal.
Mar 2014: Viagem de volta ao Brasil, correndo esbaforida, para assinar e pegar o meu diploma. Porque não dá pra pegar por procuração, muito amor.
Ago 2014: Rezar pro processo do visto dar certo e poder continuar por lá, e me inscrever num mestrado. Supondo que a universidade de lá me queira, é claro.

E, daí pra frente, vou ver o que a vida me reserva.


Isso significa, basicamente, que tenho mais 4 meses de vida por aqui. É meio estranho porque parece uma vida provisória, mas estou determinada. O negócio agora é cruzar os dedos para que tudo vá dar certo, e para que o dinheiro seja suficiente. Vida de estudante não é fácil. *suspiro*

sábado, 24 de agosto de 2013

Repartir

Faz 20 dias que cheguei. E vou embora amanhã cedo.

A verdade é que eu não quero voltar. Estou feliz demais aqui.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A porta fechada

Croix, 14h20, tarde ensolarada e bonita. O Edu está trabalhando e eu resolvo, como de praxe, limpar um pouco a casa.

A primeira coisa a fazer? Levar o lixo para fora, claro.

Reflito se levo as chaves. Pra quê? Vou só sair e deixar o lixo. A porta de entrada, se fechada, não abre por dentro, mas eu vou deixá-la aberta, não tem necessidade de levar chaves para abri-la.

Porque quem nunca se trancou pra fora de casa
em um país estrangeiro não sabe o que é diversão
Mas é *claro* que fui um gênio e fechei a porta, trancando-me para fora de meu apartamento. Depois de umas boas risadas (podem me chamar de sádica, mas em vez de me estressar, foi bem mais legal me divertir com a situação), ponderei o que fazer. A isolação acústica entre os três apartamentos do prédio é tão impecável que eu sabia, com certeza, que nenhum dos meus dois vizinhos estava por lá, como tudo estava quieto demais. Até tentei, mas claro que sem sucesso.

Eu só estava com as roupas do corpo: nada no bolso, sem óculos, sem relógio e ainda com sede. E eu não sabia o celular do Edu de cor, claro. Se eu soubesse, a aventura do dia ficaria fácil e sem graça demais, convenhamos.

Restava uma alternativa: cruzar os braços, sentar na rua e esperar o Edu chegar, lá pelas 18h30. Eu provavelmente o mataria de preocupação até lá, sem dar notícias por 4 horas (ele é super atencioso e sempre se preocupa em me mandar mensagens durante o dia, saber se eu estou bem, como estão as coisas). E eu também não estava muito atraída pela ideia de ficar tostando no sol por 4 horas, sem fazer nada, passando sede e sem saber o que fazer.

Aí que decidi que só me restava ser rebelde: eu iria furar o metrô, aí andaria até o trabalho do Edu (uns 40 minutos de viagem total) e pegaria as chaves dele. Eu solucionaria o problema de matá-lo de preocupação e estaria dentro da confortável casinha em uma hora e meia. Os metrôs de Lille (e grande parte dos metrôs da França) não têm catraca, o que faz a tarefa de furá-lo especialmente simples, basta que não haja fiscais. Me senti tão... adolescente.

Mas atenção, crianças: não repitam isso em casa! Primeiro, que coisa mais feia, isso não se faz! Segundo, além de muito feio, quando um fiscal te pega, você tem que pagar uma multa de 50 euros. Além do mais, custa 28 euros por mês para ter um cartão de transporte, com utilização ilimitada de metrô, ônibus e tramways. É meio idiota querer burlar o sistema só porque não existem catracas.

Passei a viagem toda rindo de mim mesma e ensaiando o que eu iria dizer para o recepcionista da empresa. "Bom dia! Eu preciso falar com um funcionário daí. É uma emergência" me soava mais bonito do que "bom dia, eu sou uma anta e me tranquei pra fora de casa. Eu abriria a boca a chorar e chamaria pela minha mamãe, mas como ela está muito longe daqui, pode ser o namorado mesmo".

Eu nem sequer me lembrava qual era a última vez que eu tinha saído assim de casa: sem nada além das roupas no corpo, sem poder enxergar muito bem, sem poder saber que horas eram, sem a possibilidade de comprar uma água e matar a sede, sem. É uma experiência espiritual libertadora. Senti-me estranhamente livre e leve.

Mas bem que uma situação dessas realmente fica mil vezes mais divertido quando a gente não domina a língua muito bem. Quando a recepcionista da empresa me perguntou "quel est son nom ?" eu entendi "qual é o seu sobrenome?". Está certíssimo, mas o problema que "son" quer dizer seu no sentido "dele", e não "teu"; aí ficaram procurando por um funcionário com um nome frankenstein: o prenome dele, o sobrenome meu. Foi divertido.

Passados os momentos de susto do Edu de me ver lá, no meio da tarde, no seu trabalho, tudo foi lindo. Missão cumprida! Bastava voltar pra casa.

E a volta foi tranquila, tirando a tentativa malfadada de ajudar um drogado a chamar a ambulância, a presença de fiscais na estação de metrô, andanças perdidas em busca de uma outra estação, um cara me assediando num francês incompreensível, me seguindo e me fazendo perguntas até eu inventar que sou casada, uma viagem de metrô num sentido errado e quase perder as latas de lixo que eu tinha esvaziado.

Nunca estive tão feliz por ter entrado em casa. E nunca mais duvido da minha capacidade de me superar.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Paris


Antes de começar a escrever este post, que fique um aviso aos navegantes: eu nunca me senti atraída por Paris, nunca quis conhecer, nunca entendi o porquê de tanto encantamento. É, eu sei, pode soar como uma blasfêmia para alguns, mas acho que pode explicar um pouco este meu post, caso eu pareça azeda por vezes.

Mas sim, fomos conhecer a capital, porque achei que seria uma blasfêmia ainda maior dizer que fui pra França, fiquei a uma hora de Paris e não conhecer a bendita! E não me arrependi, mas não mudei muito de ideia.

Já ouvi muito francês dizer que Paris não é França, e que o parisiense não é francês. Isso porque Paris é uma das cidades mais visitadas por turistas do mundo e, ao que parece, deixa os turistas com uma imagem bastante deturpada do francês - vejam só, acham que os franceses são antipáticos ou rudes! Maior injustiça não há, os franceses são um povo muito querido.

Mas deixo claro que encontramos parisienses muito simpáticos! Encontramos também alguns enfezados, mas imagino que seja normal para quem se depara com turistas perdidos todo dia.

Mas sim, é verdade que Paris é bela. Um pouco turística demais para mim, mas sim, é bela.

Acabei ficando com uma boa memória de Paris - só que, por mais engraçado que pareça, não foi por causa da viagem: um dia depois da viagem, mostrei ao Edu O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que desenha uma Paris encantadora, colorida e cheia de gente amável - e aí ficou a impressão de que foi essa a Paris que eu vi no sábado passado.

Mesmo o metrô é tão bonitinho e colorido em Amélie.
Estação de metrô parisiense na vida real.
Elas todas têm um agradável aroma de xixi.

Se bem que as entradas das estações de metrô daqui podem ser muito interessantes.



Mas vamos à viagem.

Começamos pelo Arco do Triunfo - que foi, inesperadamente, o meu lugar preferido em Paris. 

Avenida Champs-Elysées e o Arco do Triunfo.

O Arco fica em uma praça que parece "ilhada" no meio de ruas larguíssimas, com uma mureta de correntes em seu torno, sem sinaleiros, com carros passando sem parar. Como fazer para atravessar? 

E aí um casal de velhinhos orientais, já que velhinhos já viram tudo na vida e não têm mais medo de nada, simplesmente se deram o braço e se puseram a lentamente atravessar a rua. Oras, quem teria coragem de atropelar um casal de velhinhos? Peguei o Edu pelo braço e me pus a segui-los bem de perto, como se fossem nosso escudo pessoal. E não é que funcionou? Levamos apenas uma buzinada de algum parisiense infeliz, chegamos os quatro bem sãos e salvos.

(Só na volta percebemos que tinha um túnel subterrâneo para atravessar a avenida. Oups!)

Dentro do Arco, temos vários memoriais de franceses que perderam a sua vida na guerra.

"Aqui jaz um soldado francês morto pela pátria"
(1914 - 1918: Primeira Guerra Mundial)

O Edu estava comigo e me explicou muitas coisas sobre a história, as guerras, as coisas que foram vividas. Acabei melancólica e pensativa. Como a guerra é triste... Nós, que temos a felicidade de não conhecermos a guerra, temos a sorte de ter uma leveza de espírito natural, quase que inocente; já eles têm esta chaga permanente, uma dor transmitida de geração em geração. 

Também haviam várias outras placas, com datas marcantes e históricas. Havia um discurso do General Charles de Gaulle quando a França perdeu as batalhas da Segunda Guerra; havia as datas da Proclamação da República (04/09/1870) e da devolução da Alsácia e da Lorena à França (11/11/1918) e inúmeros memoriais, a pessoas, a batalhas e a cidades.

O Arco do Triunfo é um grande memorial à guerra, às suas dores e conquistas e aos seus perdedores - uma guerra não tem vencedores. Foi marcante.

Bom, um parêntese: aí vai uma foto tirada de dentro do Arco.

Onde estamos: Tóquio, Pequim ou Chinatown?
Não estou exagerando: dentro daquela praça, não vi *uma* pessoa que não tivesse olhos puxados. Depois de um tempo perplexa, comecei a sondar, rodear a praça em busca de alguém com olhos não-puxados, sem sucesso.

O Edu me disse os asiáticos, especialmente os japoneses, têm uma espécie de fixação por Paris - tem inclusive réplicas da Torre Eiffel em várias cidades da China e Japão - e muitos sonham em conhecê-la. Mas realmente, foi perplexante. Não sei se foi porque era cedo (chegamos em Paris às 7h e fomos direto ao Arco) ou se foi porque eles são apaixonados por esse monumento, ou por qualquer outra razão - mas os outros lugares que visitamos em Paris tinham uma taxa mais "normal" de olhos puxados.

Aí andamos um pouco pela Avenida Champs-Elysées (não vi nada de especial nela) e decidimos pegar o metrô. Descemos na Praça da Concórdia:

Nada de especial a se ver por aqui, mas a vista era bonita.

E aí seguimos pelo Jardin des Tuileries, que é bastante agradável.




Uma coisa que eu adorei no Jardim foram as estátuas de deidades romanas que temos no centro do parque. Uma mais épica do que a outra!


Seguindo o caminho, de frente ao museu do Louvre, encontramos um mini Arco do Triunfo! E, de fato, descobri mais tarde que se trata do Arc de Triomphe du Carrousel. Pois é, os franceses gostam de lembrar os seus triunfos.


A quantidade de detalhes gravados é surpreendente.
E chegamos ao Louvre! Por recomendação de minha chefe, resolvi tirar uma daquelas fotos clichês de turista. E não é que deu quase certo?

Porque a graça de ser turista está em ser clichê.
Louvre!

Mimimi
Não entramos porque tínhamos um dia curto, voltaríamos para casa dentro de 4 horas e ainda faltava ver a Pont des Arts e a torre Eiffel. Pois é, ver a Mona Lisa acabou ficando pra um outro dia.

(Na verdade, nem ligo pra Mona Lisa... só não contem para ela.)


Continuamos andamos e seguindo o nosso caminho até a Pont des Arts.

Acredito que esta ponte seja um tanto desconhecida, não havia muitos turistas por lá; mas é um lugar muito bonito e romântico para se visitar. Trata-se de uma ponte sobre o rio Sena em que os casais colocam cadeados como ato de prova de amor eterno.

O cadeado que mais me cativou:
"Dedicado a todos aqueles que fizeram do mundo um lugar melhor
e a todos aqueles que nunca tiveram a chance de dizer Obrigado ♥"
Vem gente do mundo inteiro colocar cadeados aqui. A visão de longe é impressionante, temos a impressão que é uma ponte com ornamentos estranhos dourados.

Pont des Arts de longe

E aí, mais de perto percebemos que esses ornamentos são sim todos cadeados. :o

Tinha uma moça por lá tocando acordeão. Incrível como alguém tocando música em um lugar público pode transformar um simples passeio em algo mágico, completo, significativo. Posso me esquecer da ponte, mas não vou esquecer que lá tinha uma moça tocando acordeão. E ela ainda tocou uma música do Yann Tiersen, da trilha sonora da Amélie. ♥


A gente tinha ido para a ponte, claro, determinado em colocar o nosso cadeado. Mas aí chegamos lá e vimos que certas grades estavam vazias; eles claramente removiam os cadeados de tempos em tempos. Refletimos, refletimos e decidimos não colocar coisa nenhuma por lá. Foi quase que rebelde, visitar a Pont des Arts e ir embora sem deixar um cadeado. Super legal.

Por que ser mais um no meio de tantos?

É muito linda a vista do Rio Sena de lá. Por vezes passam por lá barcos de turistas, e eu encontrei um de brasileiros, vejam só! Anunciavam em português o que tinha a se ver por lá.


Depois de 15 dias praticamente só falando francês (e raramente inglês), bateu a saudade da minha língua materna. Como o português é lindo...!

Depois de atravessar praticamente toda Paris a pé, tendo dormido menos de 5 horas e acordado cedíssimo, estávamos morrendo; e ainda, a fome começou a bater. Hora de achar um lugar em Paris em que fosse possível comer sem precisar vender um rim. E até que deu certo. Encontramos uma loja oriental em que compramos o panini mais caro de nossas vidas, mas que ainda nos deixou com trocados suficientes no bolso para um crêpe!

Descemos para comprar nosso crêpe, à beira do Rio Sena. E lá encontramos uma... praia. Gente, fiquei com dó dos europeus, eles montam praias em cidades! O Edu me disse que uma cidade precisa ser bastante rica para querer gastar dinheiro com isso. E eu fiquei sem entender qual a graça de tomar banho de sol fraco (ou de nuvens) e de se sujar na areia sem poder tomar banho de mar, em um lugar que cheira a xixi.

Paris Plages

Pois é, Paris cheira a xixi. Talvez seja só a parte turística da cidade, mas é fato que a Paris que eu conheci tem somente um aroma, e por onde íamos esse odor nos perseguia. Mas não é tão ruim assim, depois de duas ou três horas, você acaba se acostumando.

Fiquei encantada com a maneira pela qual se fazem os crêpes: eles têm uma chapa quente em formato redondo e um tipo de espátula especial para espalhar a massa em forma redonda. Ah, detalhe: os crêpes franceses não têm nada a ver com aqueles crepes que conhecemos no Brasil! Eles são uma grande e fina panqueca redonda, recheada geralmente com alguma coisa doce, como Nutella, frutas ou geleia.

A menina dos crêpes estava meio enfezada, mas na hora da foto ela
se divertiu e soltou um sorriso involuntário. Para turista inglês ver!

Por fim, faltava só mais uma coisa para ver: a torre Eiffel.

Só que aí a viagem começou a ficar difícil. Eu não aguentava mais de cansaço, não conseguia nem mais andar. Eram duas da tarde e teríamos 1h45 para ver a torre e voltar à Estação. Acabamos pegando uns três ônibus diferentes e atravessando a cidade (e dormindo durante o trajeto, claro) antes de chegar à torre. E realmente foi ótimo, fiquei reanimada para a parte final da viagem.

Estátua na frente de um ponto de ônibus

De tanto ver a torre ao fundo dos lugares que visitávamos, já estava acostumada com ela. De longe, eu me perguntava por que diabos ela era tão famosa. Ela não passava de um monumento de aço, e desde quando o aço é bonito?

Mas à medida que nos aproximávamos, ela ia aumentando, aumentando, aumentando... minha nossa, que troço gigante! Acho que finalmente entendi o significado da palavra impressionante.

De longe, turistando

No caminho

De perto, mal dava para enxergar seu topo, tão grande que era esse troço.

Fiquei super impressionada. Legal, três fotos tiradas e estava na hora de correr, faltavam 45 minutos para pegar o trem, que ficava do outro lado da cidade.

A adorável escadaria do monumento Trocadéro é muito mais
divertida (e traumatizante) quando você tem pressa.
Perguntamos ao rapaz que trabalhava nas colossais filas para entrar na torre, e ele disse que poderíamos atravessar a rua e pegar o metrô lá, em vinte minutos estávamos na estação. Lindo, chegaríamos uns 5 minutos adiantados para pegar o trem.

Seria mais lindo se ele tivesse explicado que "atravessar a rua" na verdade significava atravessar uma rua, andar duas quadras, atravessar outra rua, depois passar por uma ponte do rio Sena, escalar o monumento do Trocadéro com suas milhões de escadas e andar ainda mais um pouco, em quase um quilômetro de trajeto.

Ah, claro, depois de pegar o metrô, teríamos que trocar de linha, e ainda correr mais uns 800 metros até finalmente chegar na estação de trem. Ainda precisaríamos achar a nossa plataforma para embarcar.

Tínhamos 40 minutos. Bem, façamos as contas:

   15 minutos (trajeto Torre Eiffel-metrô, em corrida desesperada)
+ 5 minutos (espera e troca de linhas do metrô)
+ 20 minutos (trajeto de metrô)
+ 5 minutos (corrida desesperada até a gare)
+ 2 minutos  (achar a nossa plataforma do trem e embarcar)
   47 minutos = ferrou

Perder o trem seria uma tragédia: compramos um bilhete promocional (30 euros ida e volta) e não poderíamos trocar, o que provavelmente significaria bilhetes comprados em cima da hora por 78 euros por pessoa e duas horas de espera na gare. Bateu o desespero.

Já ouviram falar de como a maratona foi criada? Contam que um soldado correu a Planície de Marathónas até Atenas, cerca de 40 km, para levar uma notícia de guerra urgente. Correu tanto e tão intensamente que, ao chegar na cidade, morreu.

É, acho que entendi pelo que ele passou.

Mas não, nem tudo estava perdido! Não sei como fizemos, mas um milagre aconteceu e chegamos na estação e embarcamos no trem um minuto antes da hora da partida! Eu conseguia ouvir ao fundo uma multidão, emocionada em palmas com a nossa vitória. E aí entendi que pelo menos o soldado da maratona morreu feliz e em glória. Missão cumprida.

O nosso trem teve o desaforo de atrasar a partida em dois minutos, mas estávamos felizes, sãos e salvos. E  não precisa nem dizer que, após uma jornada tão épica, os heróis da história passaram a viagem inteira dormindo.

E voilà, pelo menos já posso dizer que conheço Paris!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bruges

Você conhece Bruges?

Se não, você realmente deveria. Bruges é conhecida como a Veneza do Norte: uma cidadezinha repleta de canais, romântica e com um ar medieval. 


Bruges era, na época da Idade Média, uma cidade portuária, mas com o tempo os seus canais foram se fechando e perderam acesso ao mar. E aí a cidade foi se isolando e se perdendo no tempo, durante alguns poucos séculos...

Uma singela viagem no tempo.

Hoje, ela é tão turística quanto a própria Veneza: por onde vamos, encontramos lojinhas de lembrancinhas, e as pessoas das lojas já chegam te cumprimentando em inglês. Mas ainda assim, não perde o charme de uma pequena cidade.

A primeira coisa que fizemos ao chegar em Bruges foi alugar uma bicicleta: o tempo estava lindo e as ruas eram fofas, mas na verdade decidimos pela bicicleta porque estávamos cansados de nos perder de ônibus, que aconteceu bastante em Bruxelas. Aqui na Europa, as cidades são muito pequenas e fica mais fácil se encontrar de bicicleta do que com um monte de linhas em uma língua que você não entende.

Fiquei com medo de ver tanta bicicleta junta.
(tinha três vezes mais bicicleta do que na foto)


Aí andamos até o centro histórico da cidade. Gente, que coisa mais fofa!

Praça com pedestres e carros misturados.
Ruas estreitas
Um restaurante meio chique em uma rua
completamente escondida e deserta

É tudo tão... Belga

Aí começamos a sentir fome e fomos procurar, claro, batatas fritas. Foi mais difícil de achar do que em Bruxelas, mas acabamos por encontrar uma. Só que o tiozinho que nos atendeu foi tão gentil, que só faltava ele sair de trás do balcão para me dar um tapa na cabeça. Santa paciência!

Eu chego, com todo o meu humilde ar de turista low-budget:

Fritas mal-educadas e água forçadamente comprada.
- Bom dia, você fala inglês?
- Mas você não viu que eu estava falando inglês justamente com a cliente na sua frente? Claro que falo inglês.
- Erm, ok... eu gostaria de uma porção grande de fritas.
- Qual molho?
- (A gente estava super indeciso) Qual você recomenda?
- Todos, todos são recomendados, todos são bons!
- Ok, mas você tem um preferido?
- Mas todos são recomendados. Tem A e B e C...
- Ok, vamos levar o tártaro.
- Ah, vocês vão comer na loja? Se sim, vocês devem comprar uma bebida para acompanhar. Não sou eu que faço as regras, mas o big boss está assistindo... (aponta para a câmera)

Aí tá, sem saber direito se ele estava tentando brincar, nos extorquir ou se era mesmo esse absurdo, fomos obrigados a comprar uma bebida; só que eu não sabia onde elas estavam. E por que fui perguntar?

- Mas oras, está lá ao lado, perto da porta! Você poderia usar mais a sua cabeça, garotinha...
(Detalhe: elas estavam em um ponto cego, impossível de se ver de dentro da loja)

É muito amor e paciência para uma pessoa só. E ele agia assim com tamanha naturalidade que me perguntei se ser azedo é considerado uma virtude pela cultura belga.

Bom, experiências bizarras à parte... Fomos conhecer os canais de Bruges de barco. O passeio não é caro (7 Euros) e é super bonito atravessar a cidade pelos rios. Recomendo.

Canal + barco = turistas felizes

Belgiquices

Alguma igreja
Restaurante à beira do rio
Casas de madeira
Antigamente, as casas eram de madeira. Mas elas pegavam fogo muito facilmente, então começaram a vedar novas construções em madeira. Mas ainda restam algumas.

Estátuas bonitinhas

Mais estátuas bonitinhas

Por aqui, é tudo muito... belga

Terminamos o dia, é claro, comendo. E aí comemos um prato que os belgas juram ser o prato nacional, só que na verdade é o prato típico roubado do Norte: moules frites.

E lá vamos nós, comer na Bélgica
em um lugar chamado Café Français

As moules frites não passam de um prato de mariscos cozidos junto com uma porção de fritas. Os mariscos são cozidos de uma forma especial, ficam com um gosto diferente e suave. Para comer, temos que usar a concha de um marisco como pinça para tirar os outros dentro de suas conchas. Comer isso tem todo um charme.


Moules frites

E aí, finalmente, fomos para casa, quase morrendo de cansaço, felizes e de barriga cheia.

Fizemos "toda" a Bélgica (Bruxelas - Bruges) em um dia só: partimos às 9h e voltamos às 21h. Realmente, morar no norte da Europa pode ser muito divertido!
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